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Liquidações pós-Natal conquistam os clientes

Fonte: Jornal do Comércio
O Natal da doméstica Márcia Berenice Alves aconteceu na terça-feira, 30 de dezembro, em Porto Alegre. Ela gastou um quarto do salário líquido de R$ 350,00 para comprar duas panelas de pressão, um ventilador e um celular. Saiu com um sorriso de dar gosto estampado na face. "Queria mais duas panelas, mas não deu. Eram fichas limitadas. Economizei antes do dia 25 para comprar mais agora", justifica a doméstica. Mas para isso, a mãe de Rodrigo chegou com o filho às 23h de segunda-feira passada a uma das lojas Manlec, no Centro de Porto Alegre. Márcia foi a primeira da fila e ajudou a confirmar o sucesso das temporadas de promoções que o varejo gaúcho colocou em ação logo após o Natal. A liquidação com jeito de terça-feira gorda da Manlec, que se prolongou por 12 horas com até 70% de desconto, segundo a empresa, é recurso para limpar estoques e captar recursos diretamente do consumidor, em vez de recorrer a bancos, com juros mais elevados devido à crise. "A estratégia ganha mais impulso em momentos de economia desacelerada", reforça Atilio Manzoli Junior, diretor-comercial da rede, com 39 lojas. "Vamos raspar estoque para renovar produtos. A ordem é praticar o menor preço possível". Manzoli estima que a receita na promoção fique 10% acima do evento de 2007. "Um dia responde por 12 dias normais de venda", compara. Somente a panela de pressão a R$ 9,90, que a doméstica Márcia levou duas, somou venda de 3 mil unidades. O produto é chamariz. Manzoli assegura que o preço não é subsidiado. A Lojas Obino, com sede em Bagé, editou pelo segundo ano seu supersaldos de Natal, que devem responder por 15,6% do faturamento de dezembro, segundo o gerente de marketing, Juliano Freire. As Lojas Colombo também comemora os bons resultados da promoção Saldão de Natal, focada na venda de televisores e itens de informática. A comercialização se encerrou nesta quarta, dia 31. "Muitos consumidores aguardam essas promoções para aproveitar as grandes ofertas", conclui Thiago Baisch, diretor de marketing da rede. A Colombo terá mais uma liquidação, considerada mais agressiva em janeiro e que abrangerá todas as linhas de produtos. A Casas Bahia, que fechou no começo da semana mais oito pontos no Estado, segue a tática da queima de estoques, que atinge também produtos novos e de mostruário até a virada do ano. O Magazine Luiza prevê a chamada Liquidação Fantástica, com descontos de até 70% nas duas primeiras semanas de janeiro. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) da Capital mapeou o movimento dos dias 26, 27 e 28 e apurou alta de 10% nas vendas frente aos mesmos dias de 2007. Para a entidade, consumidores que foram às lojas para trocar presentes acabaram comprando ainda mais. Os preços promocionais ajudaram. As principais redes de eletrodomésticos asseguram elevação na comercialização com o advento dos descontos. O presidente da CDL, Vilson Noer, diz que "o pós-Natal foi excepcional, com impacto positivo de 10% nas vendas. O consumidor adota espírito de tudo novo", avalia Vilson Noer. Entidades projetam novos descontos em fevereiro Até fevereiro, novas campanhas vão provocar os bolsos dos gaúchos. Entidades do varejo não esperam que a enxurrada de promoções atrapalhe o Liquida Porto Alegre e o Liquida Tchê, com abrangência estadual. Os dois eventos ocorrerão em fevereiro e os períodos são mantidos em segredo. Segundo o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas (FCDL), Vitor Koch, os lojistas se preparam durante o ano para a campanha, com negociações especiais com fornecedores. "A marca é de promoções, não só de estoques", diferencia o dirigente. O presidente da FCDL espera maior receptividade da indústria para oferecer descontos ante menor aquecimento de encomendas no fim de ano. Koch, responsável pelo Liquida Tchê, faz ressalva com a concentração de promoções logo após o dia 25 de dezembro. Para o dirigente, o varejo deve cuidar para não esvaziar o peso do período natalino no calendário de vendas. Koch critica ainda ações que prometem grandes descontos sobre preços praticados no Natal, considerada a data mais importante do ano. "Só não pode enganar o cliente chamando para descontos maiores em um ou dois produtos", alerta o dirigente. "O lojista corre o risco de que o consumidor perceba que as ofertas não são reais. Isso é ruim para todo o comércio". O ano de 2008 deve fechar com alta de 6% a 7% nas vendas. Ele lembra que as campanhas se caracterizam por negociações entre varejo e fornecedores voltadas ao mês. Vendas para volta às aulas também devem assegurar movimento em fevereiro. O assessor econômico da Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado (Fecomércio), Eduardo Merlin, reforça que as promoções operam como recurso para melhorar o caixa das empresas. O setor registrou até outubro 5,8% de crescimento em vendas. "Estoque parado é custo", recorda o economista. Merlin ressalva que é fundamental o lojista repassar ao consumidor todo desconto que conseguir com a indústria. "O momento é de operar com margens próximas a zero", recomenda o assessor econômico. Ele acrescenta que em janeiro e fevereiro não haverá a renda extra do 13º salário. "A população comprou no fim de ano embalada pelo 13º e o bom ano." Merlin acredita que as ações pós-Natal não esvaziarão as grandes campanhas de liquidações das entidades. "Elas são coordenadas. Vai ter consumidor para tudo, e muitos já se preparam para aproveitar melhores condições de fevereiro". A Fecomércio projeta avanço de 3% a 4% nas vendas de 2009, ante estimativa de 5% de 2008. Vendas fecham em alta de 7,8% em Porto Alegre O comércio de Porto Alegre encerra o ano de 2008 com um crescimento de 7,8%, na comparação com o ano anterior, um índice que poderia ser maior caso o desempenho das vendas de Natal tivesse superado os 6,5% de alta, o que significou um movimento de R$ 1,012 bilhões. A informação foi divulgada nesta terça-feira pelo presidente da CDL Porto Alegre, Vilson Noer. O dirigente lamentou a turbulência internacional e seus reflexos na economia brasileira - redução do crédito e da confiança da população. Esses efeitos, segundo o dirigente, foram determinantes na mudança do comportamento do consumidor neste Natal: presentes com valores menores, o que reduziu o volume financeiro do setor. Para o dirigente, apesar do grande volume de clientes nos principais pontos-de-venda, como lojas de rua e shoppings, o valor médio das compras ficou abaixo do estimado. "Este comportamento não foi muito diferente em outros estados. Entretanto, assim como em anos anteriores o período pós Natal foi excepcional com uma expectativa de vendas acima de 10%, na comparação com 2007. Com espírito de "tudo novo", os consumidores estão saindo às compras", comenta Noer. Nas lojas, a liderança das compras ficou por conta de segmentos como confecção, perfumaria e DVDs, confirmando a pesquisa da entidade realizada pela empresa Rohde&Carvalho. Em 2007, os itens de maior destaque foram televisores e equipamentos de informática. Conforme o presidente, as expectativas se voltam agora para o primeiro trimestre de 2009, com uma estimativa de 5% de crescimento nas vendas, índice impactado por um período onde a Capital passa por grandes promoções e volta às aulas. Para ele, o cenário econômico dos primeiros três meses do ano está diretamente relacionado ao comportamento dos governos nacional, estadual e municipal. Dados projetados pelo departamento de economia da entidade apontam que as condições básicas para repetir o cenário do primeiro semestre de 2008 - alto nível de empregabilidade, abundância de crédito, confiança do consumidor e aumento de vendas - dependem da manutenção dos juros em patamares facilitadores na concessão do crédito, da atividade industrial aquecida, com queda nas importações e recuperação dos índices de confiança do brasileiro. "Este cenário não isenta o compromisso do governo federal, que deverá investir pesado em infra-estrutura dos municípios e estados, mantendo a geração de empregos e preparando o Brasil para o segundo semestre do ano. É um desafio fundamental para o País", sustenta Vilson Noer.
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